No artigo anterior, "Cristãos! Quem Somos Nós! (2)", relatamos alguns eventos históricos que constituem o nosso contexto de cristãos, referindo-se aos nossos irmãos da espiritualidade ortodoxa, predominantemente presentes na parte oriental do globo, muito embora dispersos também nas outras regiões planetárias, incluindo o Brasil. Estão eles perfilados aos quatro Patriarcados Ortodoxos Históricos de procedência Apostólica.
No presente texto pretendo abordar alguns eventos históricos que contextualizam a nossa existência de cristãos ocidentais, portanto relacionados com nossos irmãos da espiritualidade católica, portanto procedentes do Patriarcado de Roma, também de origem Apostólica.
Irineu de Lião cerca do ano 185 da nossa Era, acreditava que os Apóstolos Pedro e Paulo eram os responsaveis pela implantação da Igreja em Roma e era de opinião que se devia estar de acordo com a Igreja de Roma no que se refere a liderança na preservação da fé apostólica, não incluindo no seu pensamento o aspecto de obediência jurisdicional.
Há um aspecto dificil nesa empreitada, pois as igreja tradicionais e mesmo as contemporâneas, se envolvem com os interesses ideológicos, econômicos, políticos e de busca pela hegemonia sociocultural junto aos povos e nações, geralmente sufocando os carismas e idiossincrasias próprias de legítimas famílias espirituais, que buscam vivenciar as seguras orientações cristãs contidas nas Sagradas Escrituras do Novo Testamento, oriundas de ensinamentos apostólicos, universalmentes aceitos e reconhecidos como canônicos.
É fácil perceber, por qualquer pessoa isenta e bem intencionada, quando compara o cristianismo apostólico proposto pelos apóstolos no Novo Testamento com o cristianismo que é proposto pelas Igreja Cristãs Tradicionais na época atual, o desvio que fazem da prática apostólica proposta, em favor da sustentação ora de afirmações de poderio pessoais de líderes, ora da manutenção de conveniências hegemônicas institucionais (políticas, mundanas, anticristãs,etc), ora da proteção de estrato conquistado na sociedade, posições estas que deslegitimam a sua autenticidade pela origem historicamente apostólica.
O verdadeiro convertido a Jesus Cristo, aquele que mantém alta fidelidade a Cristo como o Filho do Deus Vivo, aquele que vivencia o noúmeno em uma experiência pessoal com Deus, não tem como acolher semelhantes instituições e tornar um seguidor de seus ensinamentos.
Essas instituições necessitam de uma revolição (um novo querer), para voltar-se a Jesus Cristo em um novo processo de conversão. O que se deve fazer é orar por elas, para que não resistam ao Espírito Santo de Deus e devolva a Jesus Cristo a centralidade que lhe é de direito como o Único Senhor.
Parece que as Igreja Tradicionais Apostólicas perderam a noção do Sacerdócio Universal dos Crentes e que o Sacerdócio Ordenado em todos os seus variados graus é um comissionamento de Jesus Cristo para o Ministério Pastoral. O máximo que conseguimos com legitimidade na Igreja Cristã é o Poder Comissário e em hipótese alguma o Poder Vigário. Arvorar-se em Substituto de Jesus Cristo na terra é uma deslavada afronta a qualquer estudioso do Evangelho e uma assintosa heresia.
O Patriarcado de Roma teve pretensões de hegemonia política sobre toda a cristandade desde cedo:
cerca do ano 189-198 Vítor, Bispo de Roma, excomungou as Congregações da Ásia Menor por discordarem de datas da celebração da Páscoa; Inocêncio I (402-417) reinvindicou para a Igreja de Roma a custódia da Tradição Apostólica e a fundação do cristianismo ocidental; Leão I (440-461) deu ênfase ao primado de Pedro, convencendo o Imperador Valentiniano III que promulgasse um Édito, ordenando que todos obedecessem o Bispo de Roma portador do "Primado de Pedro"; o cânon 28 do Concílio de Calcedônia (ano 451), colocou o Patriarcado de Constantinopla em igualdade com o Patriarcado de Roma, medida que foi contestada por Leão I; o Papa Félix II (483-492) excomungou o Patriarca Acacio de Constantinopla, começando assim o cisma entre Igreja Oriental e Igreja Ocidental; o Papa Gelásio (492-496) enviou carta ao Imperador Anastasio, do oriente, dizendo que só há dois poderes que governam o mundo, a autoridade sagrada dos pontífices e o poder do imperador; em 502 o bispo Enódio de Paris declarou que o "Papa só pode ser julgado pelo próprio Deus; o Papa Leão IX fez interferências nas igrejas da Sicilia, que eram da jurisdição ortodoxa do Patriarca Miguel Cerulário de Constantinopla (1043-1058). Este juntamente com o Metropolita Leão da Bulgária, em resposta, fechou as igrejas do Rito Latino na sua jurisdição e o Patriarca enviou carta à Igreja Latina renovando as acusações de Fócio, aditando uma condenação de uso de pães asmos na eucaristia, o que se tornou costume no Ocidente no século IX. O Papa Leão IX replicou enviando o Cardeal Humberto e Frederico de Lorena (Chanceler Papal) no ano 1054, que depositaram sobre o Altar-Mor da Igreja de Santa Sofia uma Bula de Excomunhão do Patriarca Miguel Cerulário e seus seguidores. Este episódio marca a separação formal entre as Igrejas Gregas e Igreja Latinas.
A Igreja Latina sob o Báculo dos Bispos de Roma, Patriarcas do Ocidente, em suas sequências substitutivas, muito se comprometeu com as conveniências do poder temporal, legitimando as barbaridades das Cruzadas em suas diversas etapas, fez conluios e conchavos com Imperadores e Exercitos, patrocinou a Inquisição ceifando muitas vidas amadas por Jesus Cristo, durante um longo tempo.
Surgiram desejos de mudanças, em busca de orientação no ideal religioso, por diversos irmãos com seus seguidores, que foram sinais evidentes que o caminho tomado pela Igreja Institucional estava errado, mas infelizmente eram rechaçados e alguns aniquilados pelo poderio eclesiástico, sob o beneplácito do que hoje querem legitimados como Magistério Eclesial, entretanto, este não se manifestou condenando os erros e apontando os caminhos do Evangelho do Cristo.
Surgiram Congregações e Ordens Religiosas dentro da própria igreja com propostas de conversão e mudanças, mas geralmente eram manipuladas subversivamente, para subtrair a consistência das suas Regras Iniciais propostas por seus fundadores.
Para quem deseja conhecer a História da Igreja Cristã, de modo mais detalhado, com imparcialidade narracional, recomendo o livro de W. Walker, História da Igreja Cristã, volumes I e II, publicado pela JUERP/ASTE, em 1967, 1980, 1981 e 1983.
Que Deus nos abençôe a todos!
Dom Felismar Manoel
Catolicismo Evangélico Salomonita
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